domingo, 21 de agosto de 2011

Crônica de Domingo!

  
Vermelho na folhinha!!!



Por Alessandra Leles Rocha


                Em um mundo que transpira ansiedade creio que a maioria das pessoas deixou de perceber que a semana começa justamente sob ares de pura tranqüilidade e relaxamento. Domingo! Dia da preguiça, do culto ao ócio, da vontade marota em ser “irresponsável”. É minha gente, o calendário nos fez essa graça, nos deu de presente um dia vermelho de alegria para fazer com que corpo, mente e alma pudesse refletir sobre a vida, o cotidiano, os deveres, os prazeres, as diversões,... sem o constante chibatar dos ponteiros do relógio. Graças aos Céus! Ao menos um dia para se lembrar de como é bom estar vivo e viver sem amarras, sem peso sobre os ombros.

Verdade seja dita, no fundo no fundo, sabemos que podemos ter muito mais do que essa simples pausa semanal. Fomos nós, Homo sapiens que perdemos o fio da meada e nos encantamos em demasia com nosso potencial físico e intelectual, extrapolando o bom senso, os limites naturais e chafurdando na lama viscosa do que conhecemos como caos. Viver a realidade caótica é para o ser humano a grande adrenalina de uma relação tênue de amor e ódio consigo mesmo. Ainda que saibamos que o dia só disponha de vinte e quatro horas para nos atender de forma plena e harmonizada, quebramos as regras, construímos agendas visivelmente incompatíveis, desrespeitamos as necessidades físicas (sono, repouso, alimentação, por exemplo), para no fim das contas prostrar a angústia e o pesar por sermos tão humanos e previsíveis. Essa terrível mania de pensar como seria bom que o dia tivesse quarenta e oito horas, por exemplo, dimensiona a nossa infantilidade humana. Quanto mais tivéssemos de tempo, ele certamente nos seria insuficiente para tamanha inquietude. Cientes de que o tempo de existência é finito, o que adianta lutar em desespero para viver tudo a velocidade da luz? Estamos cada dia mais inquietos e na mesma proporção infelizes, já que estamos deixando de sorver as experiências, as singularidades da vida; e mesmo assim o tempo não para. Sim, o mundo dita milhares de regras a serem cumpridas!  A grande questão é que entre compatibilizar a nossa vida com o mundo parece que tem sido mais “fácil”, ou cômodo, fluir pelas correntes dele sem contestação. Uma vez embarcado nessa estrutura o ser humano gradativamente perde as rédeas do próprio caminho e encontra impossibilidade, ou dificuldade, em se posicionar e estabelecer as suas próprias prioridades. O calendário vai ficando cada vez menos colorido de vermelho e com layout maior, mais negritado, exaustivo só de olhar.

A máquina humana tem sido preterida, embora seja ela a grande responsável pelo desempenho da engrenagem da vida. Mas, máquinas também precisam de pausa e de atenção! Reparos, ajustes, limpeza profunda, inserção de novos componentes; enfim, se não nos dermos também essas oportunidades, a nossa vida útil estará comprometida. Os dias vermelhos, além de significar o descanso sagrado e vital, são para nos alertar a magnitude de sua importância. Talvez tenhamos até alcançado o ponto de termos desaprendido a desacelerar e utilizemos esses dias para trabalhar em outras tarefas que nos faltem tempo na correria cotidiana; mas, então, que não percamos de vista, na sua execução, a capacidade de torná-las lúdicas, alegres, divertidas, um flashback delicioso das brincadeiras de criança, sem o tormento de findá-las mediante prazo determinado, com intervalos para tomar um refrigerante e estourar uma bacia enorme de pipoca...

Domingos são para se redescobrir a felicidade ou reinventá-la na proporção da conjuntura em que vivemos. Domingos tem que nos despertar os sentidos, tem que ter gosto, ter cheiro, ter sabor, arrepiar o corpo e a alma. Se der vontade de rir, que ria alto, livre, vibrante! Se der vontade chorar, que chore com os olhos e o coração! Se der vontade, qualquer que seja ela, é porque o ser humano que habita em você está de volta, vivo, pleno, assumindo um espaço que jamais deveria ter perdido. Domingos são para te lembrar que você não pode passar em branco, robotizado, sisudo, ansioso; ao contrário, ele chega como o primeiro dia da semana para te sacudir por inteiro e te fazer flertar com outros caminhos e direções.    

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