Com a palavra, a MULHER!
Por Alessandra Leles Rocha
Achei genial a ousadia da televisão brasileira em abrir o debate: afinal, o que querem as mulheres? É, minha gente, apesar de estarmos em pleno século XXI, de milhares de viagens ao espaço para se saber o que havia por lá, o remar das mulheres pelas correntes frias e turbulentas da sociedade ainda causa rubores e constrangimentos.
Valeram sim, a minissaia, a pílula anticoncepcional, o paz e amor, a máquina de lavar roupa, as crises econômicas que impulsionaram milhões de mulheres a descerem do pedestal da “rainha do lar” para brigarem por um lugar ao sol no sustento da própria família,... mas, distante dos embates feministas, antes de se exaltar tantas e importantes conquistas dessas “leoas” da espécie Homo sapiens, faltava de fato parar, respirar e olhar com olhos de compreender, o que querem elas no mais profundo do seu ser.
Embora a sociedade já lhes permita falar com a própria voz, o que sai de suas bocas ainda é motivo de contestação e repreensão. A alma feminina parece fadada a equilibrar todos os “pratos” que o modelo social vigente impõe – diga-se de passagem, que essa observação também cabe aos homens; eles também têm seus “pratinhos” a equilibrar – e assim, vão gradativamente, interpretando papéis e se autossufocando enquanto essência. A vida da mulher se assemelha a um jogo de videogame em que ela vai mudando de fases, que estão previamente determinadas no jogo da vida, e quando ela decide não jogar essa ou aquela fase, ai ai ai, sobram-lhe dedos em riste, falatórios e doutrinamentos; como se ela apesar da certidão de nascimento, carteira de identidade, CPF, carteira de trabalho e título de eleitor fosse incapaz de pensar com o próprio cérebro, de gerir a própria vida.
Tem momentos em que até acho graça e fico tentando entender esse comportamento social partindo do pressuposto de que a mulher é vista como uma entidade dissociada, ou seja, a sua capacidade intelectual, cognitiva, encontra-se diretamente definida para suportar a complexidade da “nova rainha do lar” – aquela que é dona de casa, mãe, esposa, profissional liberal, que divide seu dia em diferentes rotinas -, mas incapaz de suprir-lhe as suas necessidades humanas, existenciais, emocionais, afetivas, de onde surgem o seu verdadeiro querer.
Talvez ninguém entenda o que elas querem, porque ninguém está plenamente disposto a permitir que desabroche o ser humano contido em cada mulher; paira no ar o medo desse desconhecido. Já é difícil para a sociedade lidar com os assombros dessa artista que desempenha tantos papéis e se sobressai em evidência, inclusive nas áreas antes dominadas apenas pelos homens; imagina, qual será a surpresa oriunda do ser humano mulher? Creio eu, que não será nada de tão espetacular assim; coisa simples, trivial como é o próprio ser humano. Não ter que ir ao limite da exaustão para provar equidade ou superioridade com o homem, seria um bom começo. Conviver, viver de fato em harmonia com suas semelhantes, abolindo de vez os estereótipos, os modelos de perfeição, beleza, sucesso, cultura, etc.etc.etc., olhando para si mesma e sendo feliz com o que vê por fora e por dentro. Ser amada, com a delicadeza do amor e o calor intrépido da paixão; aquele amor que simplesmente se sente com a alma, sem juras, sem palavras, silenciosamente arrebatador. Viver... um dia após o outro, sem planos irredutíveis e perversos em excelência, apenas cumprindo o necessário para mover a engrenagem da vida e alavancar a leveza da alma, o sorriso do rosto e o coração aberto. Receber de braços abertos os altos e baixos, os revezes, o inesperado, como a água que contorna os obstáculos e segue seu curso, que é nascente, depois riacho, rio, até desaguar na imensidão do mar, sem jamais desistir de seguir adiante mesmo que o caminho não seja aquele planejado lá no comecinho, sem precisar sofrer com a arbitrariedade dos comentários dos passantes de plantão.
Só isso? Não, as mulheres cada uma em sua concha sagrada preserva muito mais; mas, não me cabe aqui ficar divagando sobre mistérios que a seu tempo haverão de se revelar. Enquanto homens e mulheres se esconderem sob o manto de suas personagens não vale à pena mergulhar no poço dessas reflexões; e esse talvez seja um importante ponto nessa imensa especulação sobre o que querem as mulheres.