terça-feira, 12 de outubro de 2010

Crônica: Sem o hoje, elas jamais chegarão ao amanhã!

Por Alessandra Leles Rocha


            Dizem que uma criança “é o sorriso de Deus para o mundo”. Com certeza isso é verdade! Cada nova vida que chega a luz do mundo, traz consigo a esperança, a renovação dos melhores votos para que o planeta reencontre seu caminho e possa seguir desfrutando do que há de melhor. Mas, ser criança nos dias de hoje não é tarefa fácil; sobretudo, porque jovens e adultos parecem ter sublimado de suas mentes o significado dessa fase da vida.
            Num período em que a discussão sobre a legalização ou não do aborto se inflama pelo país, isso fica ainda mais evidente. Parece fácil colocar essa questão na conta de “simples preocupação” com a saúde pública. Ora, se olharmos com carinho e atenção o universo da saúde iremos perceber com clareza de que a maioria das doenças emerge e se dissemina por conta do nosso próprio descuido, negligência e irresponsabilidade. É público e notório a banalização das relações afetivas e emocionais em nossa sociedade contemporânea, o descompromisso irresponsável com o próprio corpo; o que leva consequentemente a milhares de mulheres, se não a engravidar de forma indesejada, a contrair diversas doenças sexualmente transmissíveis e infectocontagiosas. Diante desse quadro, o curioso (para não dizer absurdo) é ter quem encontre no aborto a solução de parte de um problema; pois, a mãe se vê no direito de matar o próprio filho, mas e se ao invés da gravidez estivesse ela acometida pela AIDS1, por exemplo? Ninguém em sã consciência proporia o extermínio de sua vida para que fossem reduzidos eventuais gastos públicos, médico-hospitalares, não é mesmo? Quando se dialoga, se estabelece uma reflexão compartilhada entre homens e mulheres, busca-se a prevenção; pois, o ser humano desenvolve uma sexualidade cidadã. É esse agir consciente é que conduz ao movimento da opinião pública em favor de um compartilhamento responsável entre a sociedade e os serviços de saúde, gerando assim mais informação, disponibilização de mais e melhores métodos contraceptivos, reduzindo os índices de gravidez na adolescência, evitando a proliferação de doenças sexualmente transmissíveis e infectocontagiosas; enfim, pondo em pauta a valorização da vida em toda a sua extensão.
            Em pleno século XXI, com tantos avanços médicos-culturais, insistimos em padecer na ignorância arraigada, que encobre nossos erros com máculas monstruosas de insensatez. Legalizar a prática do aborto é simplesmente aplacar a consciência culposa, ou melhor, dolosa das inconsequências humanas. Por outro lado, os que não têm a coragem suficiente para arcar com o ônus do sacrifício de uma vida, também não se previnem e permitem que ela nasça entregue ao futuro incerto e cruel do abandono, dos maus tratos, dos abusos, da violência. O intempestivo comportamento humano, imediatista, traz legiões de crianças ao mundo para expô-las a todos os tipos de riscos; quando deveriam redobrar o bom senso diante da possibilidade da maternidade e da paternidade. Orfanatos, abrigos, centros de recuperação de menores infratores... em todo o país, centenas de milhares de crianças e adolescentes espelham o resultado de uma natalidade totalmente desestruturada, que caminha de braços dados com as desordens sociais.
            Baseada na Declaração dos Direitos Humanos2, a Assembleia Geral das Nações Unidas3, em 1959, estabeleceu a Declaração dos Direitos da Criança4; mas, como toda regra, norma, não basta a ela apenas existir, é preciso torná-la realidade concreta. Precisamos pensar nas crianças sem segmentá-las ou estereotipá-las. Temos a mania de qualificá-las como o “futuro das nações”; mas, agimos como se tivessem que se desenvolver por conta própria e assim, esse futuro vai se tornando cada vez pior e mais inatingível para o sucesso. Desde que nascem elas são cidadãos, as suas vidas movimentam a economia, a arrecadação de impostos, a aplicação de recursos; portanto, não há como simplesmente postergá-las ao futuro. Sem o hoje, elas jamais chegarão ao amanhã. Como disse Einstein, “a palavra progresso não terá qualquer sentido quando houver crianças infelizes”.
            Doze de outubro se aproxima e a data escolhida para se comemorar o Dia das Crianças virá repleta de muita festa, comemoração e alegria; mas, para a grande maioria, o presente ideal seria que fossem lembradas todos os dias e pudessem contar com um olhar mais humano, mais fraterno, mais responsável da sociedade. Aí sim, toda a luz que irradia delas poderia de vez iluminar a nossa felicidade e fazer florescer as sementes da esperança em um futuro melhor.         




1 http://www2.aids.gov.br/data/Pages/LUMISBF548766PTBRIE.htm
2 http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php
3 http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php
4 http://www.onu-brasil.org.br/doc_crianca.php