Esperança na Educação ou
Educação para termos esperança?
Por Alessandra Leles Rocha
Não há porque se espantar diante do decréscimo vertiginoso, no Brasil, no número de professores que decidem levar adiante o desafio profissional de educar. Muitas são as razões visíveis para esse fenômeno: a deficiência nos cursos de licenciatura, a falta de identidade profissional do professor, a precariedade estrutural no ambiente escolar, a falta de qualificação para atender as demandas sociais dos alunos, a constante rotatividade dos professores com perda do vínculo social, e a baixíssima remuneração.
Ser professor tornou-se profissão de risco. Seja qual o nível escolhido, a docência tem levado seus profissionais aos mais diferentes e graves quadros de stress a que um ser humano consegue suportar. A parceria que deveria existir entre a família e a escola, no contexto do ensino fundamental e médio, há muito cedeu espaço para uma “terceirização funcional”, na qual recaiu sobre as atribuições da esfera educacional a responsabilidade da formação básica do indivíduo; ou seja, cabe à escola formar o indivíduo sob todos os parâmetros sociais, éticos e morais. Sendo o segundo núcleo social a que temos contato depois da família, a escola amplia os nossos horizontes e nos projeta na inserção comunitária, muitas vezes exposta a ação da violência e dos conflitos urbanos; nesse contexto, além de lidar com seus medos, angústias, inseguranças e situações de risco, o professor vivencia o dilema de não deixar tudo isso transparecer aos seus alunos para evitar o colapso da situação. Então, gradativamente, o professor se distancia do seu papel real de educador e passa a ser massacrado pelas exigências da realidade de um sistema social caótico. Por isso não é à toa o destempero e o desespero de tantos que ainda insistem na esperança de dias melhores para seu nobre ofício.
Por mais que se pense em novos modelos pedagógicos, estruturas de ensino à distância; nada conseguirá afastar ou abolir definitivamente a figura do professor. Direta ou indiretamente estamos ligados uns aos outros no processo ensino-aprendizagem, precisamos de quem nos ouça, nos olhe nos olhos, elucide nossos questionamentos, simplifique a assimilação do conhecimento. Mesmo os autodidatas, fosse na vida, nos livros, na observação do mundo, pessoas diversas lhes trouxeram à luz da sabedoria. Somos seres humanos e precisamos de gente como nós para “destravar” nossa inteligência, “alavancar” nossas potencialidades, “despertar” a nossa consciência.
Estamos diante de um estado de emergência dos departamentos de recursos humanos que sinaliza a ausência de profissionais capacitados para mover em frente às novas oportunidades do mercado de trabalho; mas, também, do sistema educacional que padece a carência de um ensino de qualidade e a baixíssima oferta de professores para suprir a demanda escolar nos mais diversos níveis de ensino. O país pode parar não por simples falta de mão de obra qualificada; mas, por se esquecer dos que erguem as fortalezas do conhecimento e da sabedoria, os professores.
Tanto a ordem quanto o progresso parecem ameaçados pela conjuntura que apresenta o sistema educacional brasileiro. Lembremos de que só chegamos a algum lugar graças à dedicação e o trabalho desses “guerreiros e guerreiras”, que apesar de todos os pesares marcharam altivos em meio aos destroços da sua insatisfação e do descaso de quem os comanda. Como disse Mário Quintana, “Democracia? É dar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um. A vocês queridos mestres, que nos colocaram no mesmo “ponto de partida”, o nosso “muito obrigado” e a certeza de que os teremos na lembrança até o “ponto de chegada”!”. Oremos então, para que não haja mais motivos para deserção dessa luta, por tantos considerada inglória, e que eles voltem aos seus postos, revolvendo os solos da inteligência para o cultivo da cultura e da cidadania. Afinal, ser professor não é escolha, é sim um projeto de vida, um compromisso com o futuro da nação; só quem é de verdade para saber em profundidade o que estou dizendo.