domingo, 17 de janeiro de 2021

“Habemus VACINA”! Pena que isso não é tudo!


“Habemus VACINA”! Pena que isso não é tudo!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Ufa! Em meio ao caos e ao morticínio “habemus VACINA”! É bom saber que a Ciência brasileira prevaleceu nesse caso. No entanto, vale ressaltar que o preciosismo imposto para esse processo de análise dos imunobiológicos para a prevenção da COVID-19 deveria, também, se estender aos inúmeros agrotóxicos liberados para uso no país. Afinal, ao contrário de prevenir doenças, como acontece com as vacinas, eles (os agrotóxicos) são potenciais agentes patológicos graves.

Independentemente da nomenclatura utilizada para designá-los – agrotóxicos, defensivos agrícolas, pesticidas, praguicidas, biocidas, agroquímicos –, a verdade é que tais produtos, dada a sua composição química, quantidade e efeito cumulativo, podem sim promover o desenvolvimento de doenças graves, incluindo diversos tipos de câncer, malformação fetal, alergias, doenças cardíacas, hipotireoidismo, Depressão, Alzheimer, Parkinson.

Nesse momento em que milhares de pessoas estão encontrando dificuldades de atendimento para se tratarem dos efeitos da Pandemia pelo COVID-19 nos serviços públicos e privados de saúde, por sobrecarga no sistema, tem-se a devida dimensão de que essa estrutura de saúde não foi criada para servir ao cidadão apenas em situações excepcionais como essa. Pessoas ficam doentes a todo momento, por razões diversas que vão desde disfunções orgânicas até fatores exógenos, como acidentes, envenenamentos, vírus, bactérias, fungos, tragédias naturais, enfim...

Por essa razão, nos serve de alerta e reflexão a importância de constituir uma rede de mitigação de riscos socioambientais que vise conter a expansão de doenças causadas por esses tais fatores, incluindo os agrotóxicos. Situações como essa, embora mais comuns nas áreas agrícolas, elas alcançam a extensão nacional através da distribuição e consumo de produtos cultivados a partir da utilização desses defensivos.

Isso, sem contar, a contaminação ocorrida no solo e mananciais hídricos a partir da lavagem de vasilhames e equipamentos utilizados durante o combate; bem como, da dispersão realizada por meio de aeronaves, cuja logística de pulverização impossibilita se ater aos limites de uma dada fronteira cultivável e ganha reforço das correntes de ar e de chuva em franco movimento.

Acompanhar o processo de análise da vacina, embora tenha nos causado angústia e apreensão pela demora, por outro lado nos deu a todos uma dimensão do percurso científico que circunda a discussão de produtos químicos e biológicos; especialmente, no que diz respeito as etapas de testagem dos mesmos.

Do laboratório ao mundo cotidiano é preciso entender o comportamento dessas substâncias na perspectiva de grupos amostrais diversificados. Nada salta do tubo de ensaio para as ruas da noite para o dia, porque os laboratórios são ambientes controlados, onde tudo segue a princípios e normas previamente estabelecidas dentro de um rigor técnico necessário.

Mas, no ambiente comum tudo pode acontecer. O veneno que se asperge aqui pode deslocar quilômetros silenciosamente e alcançar locais em que nem se produzam produtos agrícolas; vai saber! Por isso, os estudos envolvendo agrotóxicos ao redor do mundo são cada vez mais complexos e tecnicamente cuidadosos a fim de proteger o meio ambiente de maneira integral e sistemática; sobretudo, os seres humanos.

É importante ressaltar que doenças engatilhadas pelos agrotóxicos podem acometer pessoas de quaisquer idades. Mas, como a população mundial está envelhecendo e há um aumento importante de acometimento dessa parcela por doenças neurodegenrativas, particularmente o Alzheimer, as demências, o Parkinson; é prudente e imprescindível pensar na construção de políticas públicas de acolhimento e atendimento específico de saúde. Afinal, há estudos mundo afora que estabelecem uma correlação entre o desenvolvimento dessas doenças e a utilização de agrotóxicos.

Aliás, isso significa a necessidade de estabelecer um olhar mais crítico para o modelo de saúde empregado no país. A prevenção ainda é um dos mecanismos de redução de custos com a saúde mais importante em vigência no mundo. Mas, ela vai muito além do paciente em si. O que adianta pedir a população que se alimente de maneira saudável, quando a maior parte das frutas, verduras, carne, leite e derivados, ovos, podem estar contaminados por resíduos de defensivos, hormônios e afins? O próprio ar e a água será que estão, de fato, isentos dessas substâncias?

Vivemos os últimos 11 meses e viveremos os próximos absortos pela COVID-19, como deve ser. Entretanto, apesar disso e da boa nova que chega ao conhecimento público sobre a liberação de vacinas para imunização contra essa nova doença aqui no Brasil, não podemos nos esquecer que os desafios nacionais no campo da saúde ainda são muitos. Há, inclusive, batalhas seculares a serem enfrentadas, tais como a Tuberculose, a Sífilis, a Malária, a Febre Amarela, a Dengue. E outras, como são os agrotóxicos, que se arrastam ao poder dos conflitos e interesses econômicos.

Tomara que o país entenda, a partir das mais recentes experiências, que mortos e doentes não movem suas engrenagens. A política do descaso, da negligência e do morticínio não parece se configurar em um bom cabo eleitoral para ninguém. É preciso romper o ciclo de acumulação de mazelas na saúde brasileira. A vida não pode mais viver no limite. Não nos esqueçamos de que ao contrário dos antigos faraós, há tempos descobrimos que gavetas em caixões não têm nenhuma serventia.    


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