sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Para refletir!


Sobre a perfeição...

Por Alessandra Leles Rocha

Como é difícil conviver com quem se apregoa o poço da justiça e na prática só escuta a voz do próprio grito. Um ser, cuja razão lhe pertence e pronto; fim de discussão. Esse tipo de gente me angustia, pois eu nunca sei quando haverá uma mudança repentina nas suas atitudes.
Aliás, porque o que se fala não se escreve; talvez, inconscientemente, seja por isso que não gostam muito de escrever, sob o pretexto de uma imensa dificuldade de se expressarem no papel. Claro, nesse tipo de situação não dá para disfarçar, para dizer que não foi assim, para usar de toda sorte de argumentos para contestar.
A verdade é, que no fundo, ainda que não admitam, essas pessoas se consideram acima de erros e imperfeições humanas. Os outros erram. Os outros pisam na bola. Os outros... Os outros... Mas, da parte delas nunca há motivos para reclamação. Essa, sem sombra de dúvidas, é a sua melhor estratégia para não dar vez e voz aos outros.
Desse modo, essas pessoas acumulam arbitrariedades e lamentáveis erros, como milhagens aéreas. Vez por outra se desculpam; mas, o que vale uma desculpa recheada por novos mesmos tropeços. Desculpas sem intenção de autoanálise, de reflexão, de ponderação, se perdem no vento.
Ser humano é ser imperfeito; inacabado. Não há problema algum em errar. A questão é não aprender com os erros, ou acreditar piamente que não é capaz de errar. Aí sim, temos um problemão. Porque, ao sermos capazes de calçar as sandálias da humildade e reconhecer os vieses da nossa humanidade percebemos quantas vezes ferimos os outros. Pode ser um reles arranhãozinho ou uma fratura exposta, que no fim das contas, não faz muita diferença quando o assunto é sofrimento. Sentimentos não se curam com curativo adesivo.  
É essa trave nos olhos que impede essas pessoas de enxergarem a si mesmas, que no fundo as impede de enxergar os outros também. De enxergar-lhes os defeitos e as virtudes, as mãos estendidas sempre e prontamente, o socorro preciso nos momentos extremos da vida, o companheirismo nos momentos de solidão, as boas ideias nos instantes de crise, a eterna lealdade, a simbiose astral que estreita os laços afetivos... De repente, tudo isso deixa de ter significância, importância para essas pessoas e elas emudecem os outros, sem a menor cerimônia. Nada lhes impede de fazer isso. Nenhuma memória, ou lembrança, ou respeito, ou gota de justiça.
É assim que se abre mão de elementos e pessoas verdadeiramente importantes na vida. Quando se quebra os acordos mais simples. Quando se altera as palavras à revelia do outro. Quando se toma decisões no silêncio da própria consciência... É assim que se invisibiliza os outros. Que se estabelecem relações unilaterais. Que se vive de monólogos. Que se vai erguendo pequenos muros ao contrário de construir inúmeras pontes.
Já dizia Vladimir Mayakovsky, poeta russo, “Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que haja falta de amor”. Daí a importância de algumas pessoas descerem do seu pequeno pedestal de vez em quando, e encararem os fatos da vida; seus fantasmas, suas neuroses, suas intransigências. Tarefa árdua e pouco atraente, embora essencialmente necessária para quem almeje não ser perfeito, mas ser ao menos humano e justo.   

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