Democracia
indignada X Vandalismo ignorante - no fim todo mundo paga a conta!
Por
Alessandra Leles Rocha
Não há relação social que se sustente
sem diálogo, especialmente, quando se trata das relações democráticas de poder.
Povo e seus representantes têm que estabelecer vias saudáveis e produtivas de
comunicação, de modo em que os anseios, as demandas e os problemas sejam
adequadamente resolvidos e superados. Bem, isso é o que diz a teoria e o bom
senso!
Só que na prática, os representantes
eleitos costumam exercer seu poder por via de mão única e, porque não dizer, do
ângulo de seus próprios interesses. Então, um cabo de guerra começa a se
estender entre as duas extremidades e cujo resultado não constrói nada de
efetivamente producente.
No dia em que se divulgam os
resultados de que a inflação em 2015 terminou em 10,67% e teve como alguns de
seus principais vilões a cebola, a conta
de luz, a gasolina e o tomate, não é de se espantar que a população se sinta
indignada. O retrocesso da economia
nacional teve impacto direto sobre a vida de ricos e pobres e levou o país a um
grau de desconfiança internacional vexatório.
Sendo o direito de ir e vir um dos
mais elementares, não é à toa que a proposta de elevação das tarifas de transporte
em várias cidades brasileiras se torne o estopim de manifestações. E é claro
que, entre a manifestação pacífica e ordeira sempre haverá indivíduos dispostos
ao tudo ou nada no extravasamento de sua raiva ou, simplesmente, infiltrados
para gerar a desordem propositadamente e justificar intervenções que, mais do
que conter os excessos, têm como finalidade principal ‘calar e desencorajar a
voz dos justos’.
Como em junho de 2013, em São Paulo
e no Rio de Janeiro na tarde de hoje aconteceram manifestações contra o novo
valor das tarifas do transporte público. Em São Paulo, o início tranquilo foi
brutalmente interrompido pelo descontrole de mascarados que anarquicamente
começaram uma sucessão de depredações ao patrimônio público e privado no centro
da cidade. Mas, no frigir dos ovos, a questão é que a falta do diálogo busca sempre
o caminho das ruas ou da violência para manifestar-se.
Há mais de dois anos, o povo
brasileiro decidiu ‘acordar o gigante adormecido’ dentro de si e agir em favor
da democracia que lhe pertence. Cansado de promessas, de falácias, de silêncios
tornou-se necessário constituir uma nova via de comunicação para o seu repúdio
aos desmandos, à corrupção, à incompetência, à ineficiência, a tudo que contrapõe
a ordem, o progresso e o desenvolvimento nacionais.
Causou espanto e desconforto; mas,
ainda sim, não o bastante para demover seus representantes do altar de seus
poderes. Mantiveram-se impávidos, como se tudo não passasse de um fugaz ‘arroubo
juvenil’. O que não espanta, já que a mesma práxis aplicou-se também diante do
processo do Mensalão, do escândalo da Petrobrás, da Operação Lava Jato, da
Operação Zelotes e afins. Talvez, o silêncio se explique pela falta de uma
resposta que de fato responda. Talvez, falte preparo e conhecimento suficientes
para saber desatar o nó criado por eles mesmos. Talvez, seja difícil admitir as
escolhas erradas, os caminhos tortuosos e sem saída. ...Só que esse silêncio eloquente
se torna a resposta que abre precedente, sem tamanho, para que se fomentem conjecturas
e indignações públicas; bem como, que conduza as reinvindicações populares a um
sistema de ‘judicialização’ da democracia, onde a cada novo absurdo a população
não tenha outra escolha senão recorrer às instâncias da Justiça nacional para
se perceber ouvido e atendido.
As manifestações de hoje em face do custo com
transporte público são apenas a ponta do gigantesco iceberg de reinvindicações
do povo brasileiro. A carestia que assola a alimentação e as tarifas públicas
soma-se ao desemprego, a desaceleração da economia no tocante a produção
industrial e aos serviços, ao sucateamento das instituições de saúde, a
falta de perspectivas dos investidores internacionais em relação ao Brasil nos
próximos anos; já que, este se inicia maculado pelo retrocesso dos anos
anteriores. Por isso, as ruas tenderão a assistir novas e volumosas manifestações
democráticas do povo que mantém ‘a duras penas’ as engrenagens ainda
funcionando.
Diante do caos instaurado e que
assola cada família brasileira, sem distinção, não há como permanecer
indiferente e alienado. Há de se ter sensibilidade para compreender que a corda
vai sendo esticada ao limite até que o desespero venha se manifestar na
rispidez dos gestos e das palavras. Afinal, os bons ventos da bonança mudaram de rumo e
deixaram nossa nau a navegar às cegas. Foram-se os anéis e ficaram os dedos.
Até quando? Por enquanto... Tudo vai depender de quanto tempo será necessário
para consumir o resto de riqueza que ainda é possível produzir.