Apenas brasa coberta por
cinzas
Por Alessandra Leles
Rocha
Silêncio não quer dizer quietude. Debaixo dessa suposta ‘calmaria’
do início do ano, a dinâmica dos acontecimentos segue seu rumo. Ao contrário
das ações governamentais conterem o avanço avassalador dos descaminhos nacionais,
o que chega a conta gotas aos cidadãos são os reflexos robustos da inflação, do
desemprego, da insegurança, da falta de assistência médica, de todo um quadro
caótico e desesperançoso do país.
Como dizem por aí, “o cobertor está cada vez mais curto”. É o
que explicam e explicitam os exemplos a seguir: depois de um aumento de mais de
50% no ano passado, a energia elétrica deve ser reajustada entre 3% e 15%.
Estados e municípios temem não conseguir pagar o piso salarial aos professores.
O material escolar está em média 10% mais caro. Tarifas de ônibus, metrôs e
trens também já foram reajustadas. O Programa “Minha Casa minha Vida” a partir
de agora deverá ser financiado com 90% do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS). O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec) deve ser custeado, em boa parte, pelo Sistema S - SESI, SENAI,
SENAC e SEBRAE – através da redução na parcela de contribuição que as empresas
são obrigadas a fazer a essas instituições. O aumento para R$880,00 no salário
mínimo já desencadea um impacto de R$2,9 bilhões nas contas da União, que já
opera em déficit. Ainda sem definição de quando e quanto, neste ano, o governo federal
prevê reajuste no Programa Bolsa Família (gasto de R$1 bilhão previsto para o
programa). ...
E o balaio de gatos só tende a crescer.
Em tempos de recessão, com a sucessiva retração da economia (estima-se algo em
torno de 1,9% para esse novo ano, sem contar o percentual de 2015), o mercado
de trabalho deve piorar bastante e o índice de desemprego chegar a 10%, o que é
trágico se pensarmos que 2015 fechou com o espantoso número de quase 2 milhões
de trabalhadores fora do mercado. Com os preços pela hora da morte, a renda
perdendo drasticamente o poder de compra e com a perspectiva de no máximo seis
meses de Seguro Desemprego, caso o trabalhador se enquadre nas regras do
programa, a situação é mesmo tensa. E pode se agravar ainda mais, caso as
sugestões de criação e aumento de impostos e tributos encontrem respaldo no
meio político para se efetivarem. Aí, não haverá mesmo luz no fim desse túnel.
Uma pena! Afinal de contas era
para termos alguém realmente disposto a fazer cumprir os objetivos fundamentais
dessa República: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir
o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – PROMOVER O BEM DE TODOS,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação. Cada dia mais o desconhecimento voluntário e a displicência em
relação à Constituição Federal parecem acentuar-se diante dos absurdos cometidos
contra a nação.
Como disse o poeta Carlos Drummond
de Andrade, “E agora,
José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora,
José? e agora, você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz
versos, que ama, protesta? e agora, José? [...]”. Chegou a hora de a
necessidade extirpar a ignorância (genuína ou por conveniência) e fazer brotar
a razão, em uma disposição de garantir a dignidade, o alimento que nutre a alma
e os sonhos de todo e qualquer cidadão. Chega de regar com suor e lágrimas, de
uma vida inteira, a semente improdutiva que jamais germinará, acalentando-se na
migalha da boa intenção. Ora, ora, boa intenção não paga as contas no fim do
mês, não põe a comida sobre a mesa, não garante as necessidades de uma existência.
Se a realidade o incomoda de alguma forma. Se o seu senso de
justiça parece ferido diante da realidade. Então, preste atenção e jamais
esqueça essas palavras: “Não deixe sua chama se apagar com a indiferença. Nos
pântanos desesperançosos do ainda, do agora não. Não permita que o herói na sua
alma padeça frustrado e solitário com a vida que ele merecia, mas nunca foi
capaz de alcançar. Podemos alcançar o mundo que desejamos. Ele existe. É real. É
possível. É seu.”(Ayn Rand - escritora, roteirista,novelista
e filosofa norte-americana, de origem russa). 2016 está só começando ...
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