Ser humano: um ser vulnerável!
Por Alessandra Leles Rocha
Seja em prosa ou em verso, a verdade para todos nós
é uma só: o tempo não para! Todos os dias construímos os capítulos de uma
historia, apesar de não termos nas mãos e na mente o poder absoluto de
decidirmos o final. Como a vida nos reserva surpresas e nem sempre essas são
verdadeiramente boas precisamos refletir com mais delicadeza e cuidado sobre um
futuro imerso em nuvens de mistério.
Falamos amiúde, com ou sem profundidade, sobre a importância
dos cuidados parentais. Sim! Quando crianças dependemos imprescindivelmente do
suporte oferecido pelos pais e família; afinal, tanto a sobrevivência quanto os
valores e princípios que nortearão nossos caminhos virá dessa estrutura. A própria
natureza nos oferece belos exemplos dessa relação para nos inspirar. Entretanto,
no contraponto das relações parentais, quando a vida se encaminha para o fim,
tanto a prole – então, já crescida e adulta – quanto os demais indivíduos do
grupo precisam ter olhos e sensibilidade suficientes para retribuir esse papel.
Pena, que nem sempre isso aconteça! Seja pela ausência de uma prole ou de uma
sociedade, ainda que estranha de forma afetiva ou familiar, capazes de tomar à
dianteira e exercer os cuidados necessários para proteger e resguardar com
dignidade a vida daquele ser humano.
É! A velhice nem sempre chega de forma tranquila e
facilmente adaptável; especialmente, para aqueles que sempre foram
independentes e conduziram suas vidas por um caminho mais solitário ou
individualizado. Daquelas tais “surpresas” da vida, vez por outra a solidão não
é voluntária e sim, conjuntural e aparece sem cerimônia, pegando totalmente
desprevenido o cidadão. Só que nessa etapa da vida não se dispõe da mesma força
e habilidades físicas e intelectuais para vencer com maestria o cotidiano. Uma surdez
aqui, um desequilíbrio acolá, a memória rateando,... e a vida lá fora sem dar
nenhuma atenção a tudo isso; agilidade e força mantidas como palavras de ordem.
Ora, mas dentro daquele ser o relógio começa a desacelerar, a pedir mais tempo,
mais calma, mais suavidade para desenvolver os minutos; sobretudo, por uma
companhia que possa auxiliá-lo.
Ah! É justamente aí que a coisa se complica! Primeiro,
porque admitir a nossa fragilidade existencial não é fácil. Admitir que os anos
passaram, que não são mais os mesmos, que “cada minuto a mais é realmente um a
menos” é muito sofrido! Não adianta cobrir os espelhos, se refestelar em cremes
de ultima geração, tomar pílulas e mais pílulas antienvelhecimento,... porque é
a vida a cumprir seu rito sagrado. Da ligeira lebre chegou a hora de ser a
preguiçosa tartaruga; que chega ao fim da maratona sem se preocupar com as
primeiras colocações, apenas em chegar.
Enquanto a cabeça ainda trabalha em bom compasso,
mesmo que o corpo não responda no mesmo nível, aceitar um suporte também não é
simples. É preciso muito dialogo, muito jogo de cintura para negociar “essa mão
estendida” sem parecer uma invasão arbitraria e impositiva. Assim, o espaço do
apoio só pode se ampliar mediante o transcorrer dos acontecimentos; quando, a
vida se encarrega de alargar os limites e exigir mais.
Mas, o pior é que muitos não terão literalmente ninguém
com quem contar. A velhice esgarça muito as relações sociais e , quando não se
tem, por exemplo, um arcabouço familiar disposto a enfrentar conjuntamente esse
desafio, a solidão bate a porta com voracidade. Entre tantas as perdas sofridas
pelo idoso, ele precisa administrar a inexistência de um ponto de apoio. Apoio que
mantenha a sua existência social ativa, que converse, que convide para um
passeio, que o acompanhe as compras, que faça um chá,... que não o deixe se
fisgar pela sensação de total solidão.
Não é a velhice que causa depressão! Qualquer um nessas
condições “jogaria a toalha”, desistiria de lutar! Quando a velhice chega a
grande maioria dos sonhos e projetos já foi ou não cumprido, mas o nível de
expectativas não enquadra mais um enorme turbilhão de emoções. Aprende-se a
lição de viver um dia de cada vez; só que para tal é preciso companhia, afeto,
cuidados, alguém que segure a mão como nos tempos de criança e faça com que desapareçam
todos os fantasmas da vulnerabilidade social na velhice.
Os países orientais há milênios já exercitam esse
cuidado e respeito aos seus idosos, porque sabem que ao fazer isso estão
zelando pelo seu próprio futuro. Cada geração que repete esse rito absorve essa
sabedoria e mantem viva essa filosofia em sua sociedade, sem necessidade de
leis ou normas para tal. Já no ocidente o comportamento se apresenta em total
oposição, basta observar, por exemplo, que apesar da isenção de algumas tarifas
e impostos, os idosos enquanto vivos continuam a contribuir com a arrecadação e,
portanto, a servir silenciosamente a mesma nação que por eles passa tantas
vezes indiferente. Então, seja mais consciente, mais humano, e antes de se
julgar tão esperto, tão jovem, tão arrogante, tão cheio de si, lembre-se que os
dias mudam, o tempo passa e a velhice só chegará para quem tiver a honra, ou
quem sabe a sorte, de permanecer vivo até lá; afinal, ser humano é ser sempre vulnerável!
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