sábado, 14 de julho de 2012

Uma boa reflexão para esse 14 de julho!!!


Será mesmo o fim?

Por Alessandra Leles Rocha

Bom mesmo é ver a vida com otimismo, com a alma transbordando de esperança, com a fé reluzindo a sua luz positiva mais intensa; porque a vida é um sucessivo vai e vem, altos e baixos, nada de calmaria em tempo integral. Mas confesso que anda realmente muito difícil manter a cabeça fora d’água e suportar os solavancos de marés que surgem além da linha do horizonte. Já se foi o tempo em que os problemas pareciam bem próximos, ao “controle de nossas próprias mãos”; hoje, a cadeia de dominós se verga a quilômetros de distância e nos alerta a sua chegada.
       Dezoito anos desde que a estabilização da economia nos bateu à porta com o Plano Real e a alegria agora nos parece tirada, como doce roubado das mãos de uma criança. Tormentas além-mar sopram vorazes os ventos da incerteza econômica por todos os cantos do globo terrestre, não deixando ninguém a salvo, nem passível de sono tranquilo 1. Só mesmo diante dos estragos é que a sociedade mundial toma pé da situação, a qual ela mesma indiretamente ajudou a construir, quando se esqueceu do movimento ondulatório natural da vida: tudo que sobe um dia há de cair.
       Desse pequeno lapso de consciência, ou de confiança exacerbada nos bons momentos, não podemos nos esquecer de que depositamos democrática e credulamente a administração econômica e social nas mãos de nossos representantes políticos. Entregamos-lhes as chaves da nação para que cuidassem muito bem dela e nos propiciassem melhores dias e dividendos do seu sucesso; sendo que para tal, contribuímos sol a sol no exercício de nossos ofícios e pagamos regiamente a nossa parcela de taxas e tributos, às vezes mais de uma vez. Os números da arrecadação pareciam crescer sem fim e uma aparente sensação de tranquilidade, de que tudo estava sob controle, ofuscava as mentes e os olhos da realidade. Apesar de uma ciência exata, a matemática financeira pode apresentar variações quando sofre ingerências imprevidentes e irresponsáveis; por isso, o risco inevitável de se endossar um cheque em branco.
       Da pior maneira o mundo está entendendo que ninguém melhor para cuidar de suas necessidades e bens do que si mesmo; já que os atuais representantes foram um fiasco. Entretanto, a descoberta dessa realidade, apesar de todos os pesares, tem vindo de braços dados com uma gigantesca lista de medidas de austeridade proposta exatamente pelos representantes nacionais e a serem cobradas diretamente de suas respectivas populações 2; posto que, é a população a força motriz da geração dos recursos financeiros de um país. É, minha gente, nenhum país fabrica dinheiro; ele trabalha com os recursos advindos do pagamento de impostos, os quais cada um de nós paga diariamente! Agora, pedir austeridade num quadro de desemprego, de recessão, de aumento de alíquotas tributárias, de elevação de juros, de cortes nos benefícios trabalhistas,... essa espoliação explícita, cheira a escarnio de quem era responsável por não permitir que os fatos se desenrolassem dessa maneira!
 No Brasil, por exemplo, o decréscimo, ainda que pequeno, do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma em valores monetários de todos os bens e serviços finais produzidos numa determinada região durante um período, nos faz pensar a “insuficiência” do modelo econômico vigente 3. Na medida em que os reajustes salariais, por exemplo, são engolidos pelas aliquotas do imposto de renda, do FGTS (Fundo de Garantia por tempo de serviço), do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Como consumir se o salário é incapaz de suprir o essencial? Também configurar salário como renda e tributá-lo é o fim 4; pois, salário é a paga devida pelo empregador ao empregado no exercício de sua função. É do salário que o individuo garante a sua sobrevivência e não, uma fonte de lucro extra. Imposto de renda deveria ser cobrado sobre imóveis e grandes aplicações financeiras. Mas com a legislação em vigor, ele hoje é tão somente o grande veio de arrecadação estatal no país. Sendo assim, a elevadíssima carga tributária tem trabalhado tão somente na contramão do consumo, no endividamento daqueles que ousam consumir, no freio da produção industrial, no encolhimento do comércio e no fatídico desemprego.  
       Será esse, então, o falado fim dos tempos em 2012? De certa forma sim. Aos que já estão no olho desse furacão, a ansiedade por ver a poeira abaixar o mais rápido possível é demasiada. A falta de um plano de emergência que possa devolver a economia aos trilhos e recompor as perdas, traduz a inexatidão de uma matemática aplicada sem critérios e responsabilidade, que coloca o mundo em uma situação de apagar um enorme incêndio com copos d’água. Para os que estão chegando ao ponto de ingressar na cadeia economicamente ativa dos países os últimos acontecimentos confirmam o fim de uma estrutura trabalhista ultrapassada e ineficaz para absorver a diversidade de demandas que estão emergindo; enfim, há necessidade de uma reformulação de paradigmas e organizações onde eles possam se integrar. Talvez seja o fim de mais uma era de ostentação e gastança, um modesto nivelamento social acena para romper com discursos de ajuda internacional e voltar os olhos primeiramente às necessidades internas de cada país; afinal, para ajudar o outro é preciso estar em plena dignidade de condição, com as contas em dia e a população feliz e satisfeita.  Depois de uma longa cegueira coletiva, o sofrimento econômico está impulsionando a sociedade a buscar a luz da Razão, a separar “o joio do trigo”, a não colocar simplesmente sob os pés da esperança a solução milagrosa de todos os seus problemas.