Será mesmo o fim?
Por
Alessandra Leles Rocha
Bom mesmo é ver a
vida com otimismo, com a alma transbordando de esperança, com a fé reluzindo a
sua luz positiva mais intensa; porque a vida é um sucessivo vai e vem, altos e
baixos, nada de calmaria em tempo integral. Mas confesso que anda realmente
muito difícil manter a cabeça fora d’água e suportar os solavancos de marés que
surgem além da linha do horizonte. Já se foi o tempo em que os problemas
pareciam bem próximos, ao “controle de nossas próprias mãos”; hoje, a cadeia de
dominós se verga a quilômetros de distância e nos alerta a sua chegada.
Dezoito
anos desde que a estabilização da economia
nos bateu à porta com o Plano Real e a alegria agora nos parece tirada, como
doce roubado das mãos de uma criança. Tormentas além-mar sopram vorazes os
ventos da incerteza econômica por todos os cantos do globo terrestre, não
deixando ninguém a salvo, nem passível de sono tranquilo 1. Só mesmo diante dos estragos é que a
sociedade mundial toma pé da situação, a qual ela mesma indiretamente ajudou a
construir, quando se esqueceu do movimento ondulatório natural da vida: tudo que
sobe um dia há de cair.
Desse
pequeno lapso de consciência, ou de confiança exacerbada nos bons momentos, não
podemos nos esquecer de que depositamos democrática e credulamente a
administração econômica e social nas mãos de nossos representantes políticos. Entregamos-lhes
as chaves da nação para que cuidassem muito bem dela e nos propiciassem
melhores dias e dividendos do seu sucesso; sendo que para tal, contribuímos sol
a sol no exercício de nossos ofícios e pagamos regiamente a nossa parcela de
taxas e tributos, às vezes mais de uma vez. Os números da arrecadação pareciam
crescer sem fim e uma aparente sensação de tranquilidade, de que tudo estava
sob controle, ofuscava as mentes e os olhos da realidade. Apesar de uma ciência
exata, a matemática financeira pode apresentar variações quando sofre ingerências
imprevidentes e irresponsáveis; por isso, o risco inevitável de se endossar um
cheque em branco.
Da pior maneira o mundo está entendendo
que ninguém melhor para cuidar de suas necessidades e bens do que si mesmo; já
que os atuais representantes foram um fiasco. Entretanto, a descoberta dessa
realidade, apesar de todos os pesares, tem vindo de braços dados com uma
gigantesca lista de medidas de austeridade proposta exatamente pelos
representantes nacionais e a serem cobradas diretamente de suas respectivas populações
2;
posto que, é a população a força motriz da geração dos recursos financeiros de
um país. É, minha gente, nenhum país fabrica dinheiro; ele trabalha com os
recursos advindos do pagamento de impostos, os quais cada um de nós paga
diariamente! Agora, pedir austeridade num quadro de desemprego, de recessão, de
aumento de alíquotas tributárias, de elevação de juros, de cortes nos
benefícios trabalhistas,... essa espoliação explícita, cheira a escarnio de
quem era responsável por não permitir que os fatos se desenrolassem dessa
maneira!
No Brasil, por exemplo, o decréscimo, ainda
que pequeno, do Produto Interno Bruto (PIB), que representa a soma em valores monetários de todos os bens
e serviços finais produzidos numa determinada região durante um período, nos
faz pensar a “insuficiência” do modelo econômico vigente 3.
Na medida em que os reajustes salariais, por exemplo, são engolidos pelas
aliquotas do imposto de renda, do FGTS (Fundo de Garantia por tempo de serviço),
do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social). Como
consumir se o salário é incapaz de suprir o essencial? Também configurar
salário como renda e tributá-lo é o fim 4;
pois, salário é a paga devida pelo empregador ao empregado no exercício de sua
função. É do salário que o individuo garante a sua sobrevivência e não, uma
fonte de lucro extra. Imposto de renda deveria ser cobrado sobre imóveis e grandes
aplicações financeiras. Mas com a legislação em vigor, ele hoje é tão somente o
grande veio de arrecadação estatal no país. Sendo assim, a elevadíssima carga
tributária tem trabalhado tão somente na contramão do consumo, no endividamento
daqueles que ousam consumir, no freio da produção industrial, no encolhimento
do comércio e no fatídico desemprego.
Será esse, então, o falado fim dos tempos
em 2012? De certa forma sim. Aos que já estão no olho desse furacão, a
ansiedade por ver a poeira abaixar o mais rápido possível é demasiada. A falta
de um plano de emergência que possa devolver a economia aos trilhos e recompor as
perdas, traduz a inexatidão de uma matemática aplicada sem critérios e
responsabilidade, que coloca o mundo em uma situação de apagar um enorme incêndio
com copos d’água. Para os que estão chegando ao ponto de ingressar na cadeia
economicamente ativa dos países os últimos acontecimentos confirmam o fim de
uma estrutura trabalhista ultrapassada e ineficaz para absorver a diversidade de
demandas que estão emergindo; enfim, há necessidade de uma reformulação de
paradigmas e organizações onde eles possam se integrar. Talvez seja o fim de
mais uma era de ostentação e gastança, um modesto nivelamento social acena para
romper com discursos de ajuda internacional e voltar os olhos primeiramente às
necessidades internas de cada país; afinal, para ajudar o outro é preciso estar
em plena dignidade de condição, com as contas em dia e a população feliz e
satisfeita. Depois de uma longa cegueira
coletiva, o sofrimento econômico está impulsionando a sociedade a buscar a luz
da Razão, a separar “o joio do trigo”, a não colocar simplesmente sob os pés da
esperança a solução milagrosa de todos os seus problemas.