Diplomados
pela Crise
Por
Alessandra Leles Rocha
Já
desisti de querer acreditar que nada mais me surpreende nessa vida! Semana
começando, a rotina dando o ar de sua graça, e durante o café da manhã uma
notícia me caiu bem mal. Desde o início da avalanche econômica nos Estados
Unidos, a grande potência mundial tem mostrado o lado pouco glamoroso e
poderoso que, até então, não era de domínio público; pessoas dormindo dentro de
carros por não terem onde morar, falência e desemprego alarmante, enfim... o
caos. Agora, a notícia que chega pela mídia globalizada é que o desemprego
galopa vertiginosamente e derruba as expectativas, principalmente dos jovens
universitários. A maioria deles que conta com um tipo de credito educativo,
custeado pelo governo e empresas, para poder se formar e depois pagar esse
“empréstimo”, está diante de uma dívida individual em torno de R$170.000,00;
sendo que poucos estão conseguindo uma vaga de trabalho, mesmo fora da sua área
de formação superior. Além disso, uma pesquisa liderada pela ex-secretária de
governo norte-americano, Condolleza Rice, aponta que em torno de 75% dos jovens
que pretendem ingressar nas forças armadas são recusados por estar acima do
peso, ter ficha criminal e apresentarem falhas de formação no ensino. No
contraponto dessa realidade sobram vagas que exigem formação
técnico-especializada, em razão da carência de profissionais nessa condição 1.
Vocês
devem estar pensando: mas o que temos com isso? Por aqui a taxa de desemprego
se anuncia relativamente sob controle! Mas, não é bem assim! As portas de
grandes eventos esportivos e da busca pelo crescimento econômico é preciso
tirar lições das experiências alheias, especialmente daqueles tidos como
“maiores” do que nós. Ainda que muitos torçam o nariz é fato que o Brasil sempre
manteve uma tendência de se mirar nos modelos internacionais, especialmente, o
norte-americano. O “american way of life” sempre fez muitos olhinhos
tupiniquins revirarem de contentamento, mesmo quando por aqui a vida estava
longe de ser “um mar de rosas”. Mas, depois que a economia se equilibrou e as
expectativas tornaram-se mais palpáveis, algo muito importante permaneceu a
passos lentos: a educação. A euforia inicial impediu a devida percepção de que
a educação é o elemento chave de preparação social e consolidação de uma nova
realidade de desenvolvimento e progresso.
Se
eles estão percebendo falhas graves no ensino médio lá, por aqui as coisas são
ainda mais sérias; pois, temos falhas em todos os níveis de ensino. Como eles,
também abrimos a oportunidade de “universidade para todos”; mas, não temos
oferecido “trabalho para todos”. Quantos alunos recém-graduados estão fora do
mercado ou trabalhando em áreas totalmente diferentes ou que nem exijam
qualificação superior? Por aqui também sobram vagas para áreas
técnico-profissionalizantes; mas, falta mão-de-obra. A ideia de que o curso
superior é a ferramenta imprescindível para a transformação da condição social,
infelizmente continua a desmotivar os alunos a buscar uma formação de nível
técnico e a enxergar a verdadeira realidade do mercado profissional brasileiro.
Até mesmo no que diz respeito às ofertas de cursos técnicos, os aspectos
quanti-qualitativos deixam a desejar e o reflexo faz com que em muitas áreas a
baixa oferta de profissionais inflacione o patamar salarial, superando
profissões de nível superior.
Comparado
a diversos outros países, o Brasil certamente se destaca por oferecer ensino
público desde as series iniciais até o ensino superior; mas, no que tange a
estrutura desse ensino as discrepâncias são obstáculos significativos a serem
enfrentados. A falta de infraestrutura das unidades de ensino ameaça o
desenvolvimento dos trabalhos e a segurança de alunos, funcionários e
professores. A deficiência na formação docente compromete a aplicação das
diretrizes curriculares e quaisquer iniciativas de melhoria e desenvolvimento
psicopedagógico no setor. O
analfabetismo funcional já chegou às cadeiras do ensino superior... Enfim, o
postergar contínuo dos problemas aliado ao insuficiente percentual de
investimentos e enfrentamento direto e objetivo das prioridades, partindo do
alicerce à cobertura do modelo educacional, se tornou cronificado.
Todo
ofício exige preparação, conhecimento, habilidade. É na excelência de sua
realização que sua valoração ganha destaque. Já somos assim no futebol, no
vôlei e em tantos outros esportes; mas, um país precisa de uma diversidade bem
maior de profissionais para sobreviver. É preciso, portanto, de “EDUCAÇÃO PARA
TODOS”; educação que contemple a excelência de quem ensina para a obtenção do
mesmo nível de resultado para quem aprende, que ao contrário de criar barreiras
de segregação profissional (ensino superior mais importante do que o técnico,
por exemplo) apresente o leque de opções disponíveis para a escolha do cidadão,
que some esforços para atender as demandas do país. Afinal de contas só a
ignorância, em seu sentido literal, é capaz de macular a sociedade e seus
princípios de cidadania.
1 http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2012/07/jovens-sofrem-com-o-desemprego-nos-eua-13-nao-tem-trabalho.html
Trabalho Gráfico de Alessandra Leles Rocha.
Trabalho Gráfico de Alessandra Leles Rocha.