Ler para Ser
Por Alessandra Leles Rocha
“Oh! Bendito o
que semeia
Livros ...
livros à mão cheia ...
E manda o povo
pensar!
O livro caindo
n'alma
É gérmen – que
faz a palma,
É chuva – que
faz o mar.”
Enquanto somos
bombardeados pela mídia com os mais deploráveis exemplos das misérias humanas, surgem
silenciosas no pântano as flores de Lótus para acalentarem a alma de esperança.
Uma dessas flores é Joyce Moreno, uma menina de treze anos, filha de um gari e
de uma servente, que irá representar o Brasil em um concurso internacional de
redação de cartas, de um órgão das Nações Unidas 2.
Apesar de estudar em uma escola modelo, mantida por uma fundação sem fins
lucrativos, o que fez total diferença para o sucesso dessa jovem, não foi
apenas ser uma boa aluna; mas, o fato de se dedicar a leitura.
Já dizia
Monteiro Lobato que “um país se faz com homens e livros” 3.
E isso nada tem de demagogia! A leitura verdadeiramente amplia a capacidade
intelectual humana e descortina um universo infinito de possibilidades em ser e
realizar. O individuo que desenvolve o hábito da leitura agrega notoriamente o
domínio da língua pátria, tanto na escrita quanto no falar; bem como, o poder
de argumentação. Além disso, a leitura auxilia no combate à timidez, tornando
as pessoas mais seguras e convictas a se manifestarem e debaterem suas ideias e
pontos de vista.
A leitura é
o que nos move até a escola. É para ler e escrever que vamos ainda crianças,
bem pequenas, cruzar os portões do segundo grande círculo social de nossa existência.
Dominar a ansiedade, o medo, o lápis e o papel e de posse dessas ferramentas
vitais, ler e escrever, conquistarmos nosso primeiro passo de independência; de
modo que o céu se torne o limite para os nossos sonhos e projetos.
Caros leitores,
o mundo se constroi dia a dia graças à dedicação extremada dos que se propõem a
não permitir que tais ferramentas enferrujem. Nos mais diversos campos da
sociedade, lá estão esses obreiros a construir um pedacinho da história. Escritores,
jornalistas, cientistas, professores, juristas, teólogos,... e pessoas comuns,
como a Joyce, acima citada. Entre papeis e lápis, livros e canetas, e por que
não falar dos computadores também, as palavras são produzidas ininterruptamente,
para que possam vagar e encontrar destino, morada, abrigo nas almas incansavelmente
sedentas pela água da sabedoria. Nesse processo de rara beleza e reflexão, as
ideias vão se unindo, se transformando, se recriando cada vez com mais força e
profundidade. Se as palavras se modificam, evoluem com a passagem do tempo e a contribuição
coletiva; então, ler e escrever são premissas fundamentais à própria evolução
do ser humano. Então, qual será a razão de tantos se esquecerem de tudo isso e
se entregarem aos descaminhos da vida?
A sociedade tem nos feito
refletir as palavras de Platão: “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem
medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz” 4. Infelizmente, não basta ir à escola
para extirparmos definitivamente a nossa ignorância, ou seja, o nosso estado de
ignorar e/ou desconhecer as coisas. É preciso
individualmente, gota a gota, nutrir a mente com sabedoria e conhecimento. Leitura!
Ler para romper com os grilhões que nos fazem pequenos, medíocres, insanos,
intolerantes, toscos,... Ler para abrir todas as janelas e portas, arejar, para
escolher e descobrir os caminhos que nos conduzirão a quem de fato queremos e podemos
ser.
2 http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2012/04/baiana-vai-representar-o-brasil-em-concurso-internacional-de-redacao.html
3 http://pensador.uol.com.br/frases_de_monteiro_lobato/
4 http://pensador.uol.com.br/autor/platao/2/