Solidariedade
Por Alessandra Leles Rocha
Creio que ninguém desconheça o significado da palavra solidariedade; mas, conduzi-la do papel a ação, talvez muita gente ainda encontre dificuldade. Fazer com que este “sol” brilhe cada vez mais pleno e radiante sobre o mundo é uma missão que precisa urgentemente ser abraçada por mais pessoas.
Ainda que perdidos no automatismo tecnológico da contemporaneidade, confusos entre o real e o virtual do mundo cibernético, o isolamento e a solidão se aproximam de nossas vidas cada vez mais com voracidade. Isso não significa e nem justifica que estejamos menos solidários; mas, nos revela que nossa solidariedade em grande parte também se automatizou, como se a prática, o exercício diário dela estivesse preso a uma obrigação e distante da consciência e da sensibilidade humana. Por isso, muitos pensam que ser solidário é doar dinheiro a instituições filantrópicas, ou alimentos não perecíveis a campanhas assistenciais, ou roupas e calçados para bazares cuja renda se converte ao atendimento dos mais necessitados; contudo, no seu dia a dia são incapazes de praticar a solidariedade nos seus ambientes mais íntimos de convivência – família, amigos, trabalho. Apenas cumprem um rito, uma prática social.
O “sol” que emana da solidariedade não pode ser confundido com mero paternalismo, com ações esparsas nos momentos de tragédia e catástrofe, com protocolos simplesmente sociais, com gestos para aplacar a consciência ou encobrir a frieza que repousa alguns corações. Solidariedade é muito mais do que se possa pensar ou compreender. Tem relação direta com transcender a própria alma e mergulhar de cabeça em dores do mundo que não lhe pertençam; em abdicar de preciosos minutos do seu tempo para auxiliar aos semelhantes que precisam – seja através das palavras ou do silêncio amigo, da refeição compartilhada, da roupa limpa, da casa arrumada, da companhia, do abraço apertado nos momentos difíceis,...
Mais do que dar o peixe, a solidariedade na sua essência mais genuína evidencia que, quando possível, ensinar a pescar é bem mais eficaz e valoroso. De mãos dadas, de sonhos compartilhados, de forças unidas, a luz resplandece com mais vigor. Uns ensinando aos outros, descortinando a vida, abrindo portas e janelas para transformar a vida em algo melhor e mais produtivo. Nem sempre a solidariedade emana de um grande empurrão, mas de um simples toque nos ombros pode vir o apoio necessário para seguir em frente.
Para ser solidário basta estar vivo e disposto a estender a sua generosidade humana na figura de uma boa ideia ou de um conselho a quem jornadeia perdido e “solitário” pelo caminho, de uma presença atuante nos momentos de crise, de um amparo cuidadoso quando a doença decidiu aparecer... Para ser solidário basta querer e ver brotar do fundo da alma a compaixão pelo ser humano, ainda que este não lhe seja tão próximo, tão amigo, tão querido. De um veio que não se sabe exatamente qual, esse sentimento maravilhoso jorra sem medo de extinguir pela alma e move a pessoa a realizar, a agir em favor do outro sem saber o quanto cada ação irá acrescentar em si mesmo.
Na semana em que idosos japoneses se ofereceram em sacrifício para trabalhar em uma usina nuclear para substituir os jovens que lá estão e correm risco de vida pela radiação1, não haveria tema melhor para escrever do que a solidariedade. Precisamos dar vida a esse sentimento que habita em todos nós para que a esperança em um novo tempo se torne de fato realidade em cada canto do planeta Terra. Ser solidário é repartir o pão que alimenta o corpo e mantém de pé a nossa alma; é reforçar que o futuro só existirá enquanto houver quem creia que somos “um por todos e todos por um” 2!