Por Alessandra Leles Rocha
Talvez o mundo nem tenha se dado conta, mas está faltando gentileza por aí! Sim! Gentileza! Essa palavra de som tão doce, que exprime à cortesia, a delicadeza, a urbanidade, a civilidade. Deixamos de praticá-la e atribuímos esse lastimável descuido aos compassos apressados do tempo, como se o relógio, a vida, as obrigações tivessem culpa pelo nosso desejo incontrolável de manifestar as nossas origens primitivas.
Furamos fila. Não cedemos assento no transporte público ou em quaisquer lugares aos idosos, gestantes e deficientes. Não respeitamos a Lei do Silêncio, as leis de trânsito, as leis em geral. Não dizemos bom dia, obrigado, por favor, com licença, me desculpe. Não jogamos o lixo no local apropriado. Não... Não... Não... Somos simplesmente o ápice do egocentrismo, da vaidade, da arrogância, do individualismo. Até parece que o mundo gira não por vontade própria, mas apenas para satisfazer a nossa própria vontade! Mas, tudo que vai tem volta, um dia a casa cai e as sandálias da humildade são calçadas, mesmo que a poder de muita birra, de muito choro, de muita dor.
Se recebendo ou ofertando gentileza, o fato é que sem ela a vida não caminha. Engana-se quem pensa que ser gentil é ser bobo, subserviente, capacho. Ser gentil é saber lidar com a vida na medida exata, no equilíbrio entre dar e receber, no abrandamento das dificuldades, das hostilidades e das diferenças. Quanta diferença não faz um aperto de mãos, um sorriso espontâneo, a atenção no momento do diálogo, o fato de ser lembrado pelo nome por alguém que nem tão próximo é, a presteza no momento da dor ou da dificuldade... A gentileza consegue o milagre de tornar o dia suave, a noite reparadora, o mundo mais colorido e aconchegante, apesar de tudo ser como é.
É! Mas gentileza não se impõe, não se cobra, não se exige; nasce da alma, reafirma na convivência dos gentis, exala no bem-estar de cada gesto e pensamento, natural da própria essência. Quem é, é! Aos que não são assim, a esperança não está perdida; requer esforço, vontade verdadeira de transformação, busca por um novo sentido em existir. Para quem quer tudo é possível!
A gentileza nos aproxima da nossa humanidade e nos confronta com o que esperamos das pessoas, mas fazemos em oposição a elas. Ser gentil exige reflexão, consciência, atitude. Temos valorado tudo em razão do tempo: amor tem prazo de validade, amizade tem prazo de validade, convívio com a família tem prazo de validade... e por isso, as relações interpessoais podem perder a gentileza de uma hora para outra, como um fato normal e corriqueiro. Estamos deteriorando nossa convivência, amando as coisas e usando as pessoas.
A vida é curta, breve, um piscar de olhos e não estaremos mais por aqui; por isso, não temos segunda chance, não podemos passar a história a limpo, refazermos os caminhos que foram mal traçados, nem esbanjarmos gentileza para suprir todos os momentos em que ela se fazia necessária. Acorda! Presta atenção! Seja gentil com você, a partir do momento que você se olha no espelho, se reconhece gente de carne e osso, falível, mortal, você descobre o outro, aquele igualzinho a você, que também precisa e merece a sua gentileza; aí o círculo se completa, a corrente do Bem está formada e tudo parece respirar esperança e felicidade.