quarta-feira, 12 de outubro de 2016

12 de Outubro - Crianças, Infância...


Crianças, Infância...

Por Alessandra Leles Rocha

Doze de outubro, dia das crianças... Tanta energia boa emana da palavra criança e, no entanto, o mundo pós-moderno nos faz refletir tão pesadamente sobre a realidade de milhares delas.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), por exemplo, são cerca de 100 mil refugiados órfãos, crianças e adolescentes (de até 18 anos) que representam 51% da população mundial de refugiados no mundo. Como qualquer criança, elas irão se tornar adultos. Parece um raciocínio simples e lógico; mas, no fundo, longe da nossa vontade consciente de enxergar, esconde-se uma complexidade cruel sem precedentes.
Afinal, crianças submetidas à indignidade, a miséria, aos maus tratos, a barbárie, foram brutalmente feridas no seu direito a uma vida equilibrada, estável e saudável 1. Por mais que venham a ter a possibilidade de atendimento psicossocial e de reconstruir as bases da sua identidade familiar, haverá nelas as marcas invisíveis (às vezes, visíveis também) desse período triste e conturbado.
Portanto, quando o poder fala mais alto e desconhece o direito humano abre-se precedente para a reafirmação da construção de uma sociedade injusta, cativa e não fraterna, cujas gerações se desenvolverão doentes tanto física, emocional e/ou psicologicamente. Daí a preocupação em visibilizar a responsabilidade de cada cidadão do mundo, em relação às crianças.
Na verdade, essa responsabilidade não está vinculada estritamente a questões econômicas e/ou materiais; mas, a fiação de uma relação afetiva e efetivamente harmônica. Mais do que roupas, calçados, brinquedos,... as crianças carecem do amor essencial que se traduz no aconchego do carinho, na atenção que ouve as suas necessidades e histórias, na parceria nos momentos de dor ou de infelicidade, enfim... A grande questão é que a realidade atual nos mostra tudo isso cada vez mais distante do alcance delas.
Os últimos séculos, da raça humana, têm dilapidado os direitos humanos a começar pela infância. Estamos subjugando os pequeninos a condições bárbaras, as quais eles não têm autonomia para contestar ou se defender. Para, no final das contas, admitirmos da pior forma a nossa incapacidade de protegê-los, de resguardá-los da rudeza e da adversidade do mundo.  
Então, não é difícil perceber que a infância de hoje não é feliz. Que ela não sorri com a mesma leveza, intensidade e entusiasmo de outros tempos. As crianças estão proibidas de exercer plenamente a sua infância, na liberdade e na paz que lhes são tão características. E, infelizmente, esse não é um ‘privilégio’ só das crianças refugiadas. Ser criança no mundo de hoje é disputar palmo a palmo com a violência e toda sorte de arbitrariedades, que imperam no mundo.
De repente, os vilões das histórias e quadrinhos não fazem mais parte de um mundo fantástico; mas, do seu cotidiano. Os jogos de computador interativos só fazem reproduzir, em alguns casos, a violência que elas assistem nas ruas ou pela TV. O bullying real e virtual, talvez, seja só um jeito equivocado de manifestar a sua angústia, a sua solidão impregnada de agressividade e intolerância. ...
Enquanto isso, os adultos fingem não perceber o que acontece; como, se dessa forma pudessem se eximir das responsabilidades. Nossa indiferença apática está desconstruindo o lado bom da humanidade, enquanto ceifa as esperanças que habitam em cada criança. Uma infância mal vivida não pode resultar em uma maturidade plena. Não é à toa que milhões de pessoas pelo mundo estão doentes do corpo e da alma; muitos, inclusive, suicidando-se sem mais nem menos.
A tecnologia, a máquina, a informação na velocidade da luz, o poder de consumo,... tanto para se maravilhar e, no entanto, a vida se esfacela diante dos olhos. Temos tudo, menos a felicidade, a satisfação da existência. E o que é pior, estamos entendendo isso cada vez mais cedo.
Em 1989, a Legião Urbana já cantava “Pais e Filhos” 2 e nos fazia pensar com o refrão “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”; mas, será que realmente pensamos?
Então, nesse doze de outubro, pense, reflita sobre a infância, sobre a vida, sobre o mundo. Assuma seu papel consciente de cidadão responsável, de gente que quer um mundo melhor, mais humano, mais justo, mais solidário e se permita impregnar positivamente pelas palavras de Sigmund Freud, “Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai”. Seja pai, mãe, irmão, amigo, conhecido,... mas, seja sempre humano, responsável  e sensível as dores do mundo.

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