segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Um dia a mais para pensar...




Um dia a mais para pensar...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Virada a página do calendário, 2016 já se faz. Um dia a mais para reflexões e mudanças, já que o ano é bissexto. Mas, na verdade, no fundo coração, minhas expectativas em relação à ‘metamorfoses’ são que essas se deem muito além da perspectiva temporal. Quero mesmo é que gestos e palavras entrem em profunda concordância, numa simbiose perfeita para que os resultados sejam de fato transformadores.

Ninguém gosta de uma cena em que a voz do artista destoa da ação. Mas, na vida real isso teima em acontecer com frequência e só bem recentemente, tenho percebido certo desconforto coletivo diante disso. Pois é, cansam os discursos vazios cujas ações são totalmente antagônicas, promessas jamais pensadas em serem cumpridas. Ou quando as palavras produzidas não têm a não ser o propósito de reforçar pensamentos ruins e antiproducentes no grande inconsciente social.   

Sim, quase a totalidade das nossas mazelas advém desse processo. Por descuido da consciência (ou não) durante a nossa comunicação é que plantamos as germinativas sementes da discórdia, da intolerância, do preconceito, da segregação, da massificação,... e tudo mais que possa culminar na perda da estabilidade e da harmonia nas relações sociais. Nesse sentido, os trezentos e sessenta e quatro dias que temos a contar a partir de hoje, podem sim ser o começo de um amplo e irrestrito mergulho no oceano de nossos pensamentos. 

Como ponto de partida, que tal rompermos por exemplo com os estereótipos relacionados ao gênero e começarmos a olhar as pessoas como pessoas, como seres humanos apenas. O desvalorizar de um não significa necessariamente a valorização do outro; ao passo que, ao nos preocuparmos com as condições de dignidade e respeito humanas trazemos para a mesa de discussões a realidade de bilhões de indivíduos desafortunados pela fome, a miséria, as epidemias, as guerras, o abandono,...  Enquanto categorizamos pessoas a partir de determinados grupos dentro da sociedade, enfraquecemos o poder de conquista dos direitos humanos a todas elas, porque no fundo as suas necessidades são as mesmas, são humanas. 

A nossa não aceitação ao óbvio, infelizmente, produz falas perigosas. Estamos sempre tentando mascarar ou esconder o nosso desconforto diante de determinadas situações sociais, através de discursos de extrema superficialidade e sem nenhum objetivo concreto de ruptura com esses paradigmas; assim, eles vão se repetindo e se cristalizando geração após geração.  Meninas de rosa, meninos de azul. Brinquedos de menina, brinquedos de menino. Esportes de menina, esportes de menino. Escola de ‘boas maneiras’ para meninas, e os meninos? Desigualdade salarial entre homens e mulheres. Enfim...

O silêncio da sociedade diante dessas ‘pequenas’ considerações é grave; pois, conduz a trivialidade, a uma normatização anormal. Deixar que o mundo resolva por si só aquilo que é responsabilidade coletiva é uma inércia infame.  É assim que ajudamos a construir as fronteiras da desigualdade e referendamos a ideia de que ‘uns são mais importantes do que outros’, ou são ‘superiores aos outros’; como se a vida humana pudesse ser ranqueada ou classificada. E aplacamos a consciência, colocando a igualdade humana no papel através de leis, onde elas permanecem também em uma mudez eloquente.

Então, não posso deixar de questionar se realmente a raça humana almeja por profundas transformações, como brada em verso e prosa por aí. Será que quer mesmo um mundo de coexistência pacifica a partir de uma belíssima evolução ética e moral?! Estamos sempre em busca de leis, de códigos, de doutrinas para regular as relações humanas, como se elas fossem o antídoto perfeito para os nossos constantes desajustes e problemas, já que somos incapazes de resolver por conta própria.

Ora, mas o que palavras escritas podem fazer sozinhas se não resolvermos primeiro esse torpor letargicamente cômodo, que banha a humanidade? A lei pela lei será sempre insuficiente para nos oferecer um modelo idealizado de perfeição social. É dentro de cada individuo que precisa surgir um processo de flexibilização da alma capaz de trazer à tona a grandeza existente no equilíbrio entre a sua razão e a sua sensibilidade. Por isso, a necessidade urgente de que as palavras mecanicamente libertas pelos lábios se traduzam perfeitamente nas ações que desejam exprimir. Que teoria e prática sejam os lados de uma mesma moeda nas mãos do ser humano.

As palavras têm poder; mas, apenas quando se refletem simetricamente nas ações produzidas. E nada como um novo ano para potencializar esse processo de exacerbação da verdade, ou como dizem por aí, de ‘sair de cima do muro’. Se quisermos sacodir a poeira e trilhar um caminho realmente diferente: chega de desculpas esfarrapadas, de promessas absurdas, de mascarar a realidade. Pense ao abrir a boca. Reflita. Analise os prós e contras. Manifeste-se com consciência e não, por conveniência. Pois, como disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, “Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos”.

 

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