Precisamos estar prontos
Por Alessandra Leles Rocha
Dois mil e dez quase se despedindo e no “frigir dos ovos” o ano passou como um verdadeiro furacão por nossas vidas. É! Fomos avassaladoramente arremessados de um lado para outro, em uma tentativa desesperada por conseguir contabilizar mais alegrias do que tristezas; mas...
Por mais que a vontade pulsante na alma seja por uma felicidade de filme, um breve momento de paz fotográfico, a vida se apresenta exatamente como ela é; afinal, ela somos nós mesmos: nada de perfeição, de sincronismo, de script! Vamos chegando, nos acotovelando, mostrando ajeitada ou desajeitadamente nossa forma de delimitar território, de se fazer presente, de se fazer enxergar.
Desse modo, nem sempre o belo, o correto, o justo, o verdadeiro ganha lugar de destaque diante de nossos próprios olhos. Os antagonismos são nossos verdugos mais implacáveis e por essa razão, se fazem notar sem nenhuma cerimônia. Desde que mundo é mundo, o Bem e o Mal se enfrentam todos os dias numa guerra sem fim; já que, o ser humano é por essência um bárbaro e que não pretende, nem tem muita convicção para abdicar dessa condição. Então, ao mesmo tempo em que ri, ele chora; que sofre, ele comemora; que bate, ele apanha; que vence, ele perde;... ora mais, ora menos, assim ele caminha e escreve sua história.
Infelizmente, neste ano as mazelas deram o tom! Caçador de sua própria espécie, o homem matou por motivos torpes seus semelhantes e cobriu de sangue as manchetes dos jornais. Sofreu a resposta implacável da Natureza que ele não poupou e nem se negou a dizimar. Perturbou a paz, a ordem, o progresso, a vida por onde seu rastro andou. Calou omisso a qualquer lampejo de se retratar. Foi besta-fera contradizendo a sua racionalidade.
Finalizamos a primeira década do século vinte e um sem receber o abraço balsâmico das “boas novas”, ou da transformação positiva daquilo que há muito nos afligia. Aspergiram sobre nós, pouquíssimas gotas da felicidade que acalentamos em nossos corações! Não foi dessa vez que descobrimos o que há no final do arco-íris. Sorrimos sem graça, arrastamos correntes em nome do progresso tecnológico para demonstrar todo o nosso “poder”; enfim, fomos “felizes”, ou quase isso. Pegamos carona na “felicidade” alheia, já que a oferta se fez bem menor do que a procura. Acreditamos em fatos sem grande sustentação apenas para não perder o costume e a vida não ficar tão cinza. Procuramos aprender a rir de nós mesmos.
E viver é assim; sai ano, entra ano, estamos sempre remando, indo de encontro às novas e velhas marés! Levando uns “caldos” de vez em quando, encontrando estrelas do mar no nascer do sol, tentando buscar sentido através do olhar sincero e profundo refletido em nossa própria retina. Sonhamos, queremos, lutamos por uma vida que seja o esplendor da própria alegria; mas, enquanto não tomarmos consciência de que depende de nós haveremos de encontrar muito sal e muito fel sobre nosso banquete. Como dizia Luís de Camões, “Jamais haverá ano novo, se continuar a copiar os erros dos anos velhos” 1; então, precisamos estar prontos para fazer esse novo, para fazer valer sim, a pena, remendar o que for possível, reciclar o que está fora de moda e coser o hoje, o agora, abrindo as janelas da alma e deixando a brisa soprar, as energias fluírem e a esperança fazer morada.
1 http://pensador.uol.com.br/frases_de_ano_novo/