O
que é NECESSÁRIO para você, hein???
Por
Alessandra Leles Rocha
Sim!
Faz parte da vida humana uma serie de necessidades básicas: se alimentar, se
vestir, trabalhar, estudar, ir ao médico, ao dentista, etc.etc.etc.; mas, o que
leva as pessoas a se entregarem impensadamente em um processo agressivo (quase
bárbaro) de inversão do que realmente signifique NECESSIDADE?
Talvez
por conta desse não pensar reflexivo, em nome de um “novo conceito de
necessidade humana” milhões de indivíduos estejam se perdendo no redemoinho viscoso
do consumo e paralelamente desaprendendo os verdadeiros valores da vida.
Sob
a chibata etérea da competição, da produtividade, do status, de uma pseudo
referência intitulada “vale quanto pesa”, os dias vão sendo consumidos,
esmagados na moagem da massa humana. Estamos mais doentes, do corpo e da alma, exauridos,
prontos aos sucessivos “ataques de nervos”, postos ao limite, em nome de algo
que nem de longe reflete o verdadeiro significado da qualidade de vida. Tal qual
escravos, temos construído pirâmides mortuárias; já que, o derradeiro nos tem alcançado
cada vez mais cedo.
A subversão
da essência humana não nos aproximou do desenvolvimento, nem do progresso, nem
tampouco da evolução. Perdemos a paz. Perdemos a capacidade de reconhecer nas
mais singelas coisas a beleza. Perdemos a pureza dos sentidos. Perdemos a
reverência no cultivo das virtudes. Perdemos a convicção nos princípios... Parafraseando
o poema de Cecília Meireles, “em que espelho terá se perdido nossa face?" 1.
Uma
pena que ainda existam pessoas a acreditar que nessa ânsia da NECESSIDADE, o
único mal se formalize nas montanhas de lixo urbano. No fundo, o lixo de cada
individuo é apenas um reflexo do seu modo de compreender e viver no mundo. Pitadas
aqui e ali de nossos excessos, nossas displicências, nossa arrogância, nossa síndrome
dos pequenos poderes, que vão se acumulando, se cristalizando e se tornando
cada vez menos eficientes para aplacar as chagas abertas das REAIS NECESSIDADES
HUMANAS.
Robotizados
aos comandos midiáticos a ditar a todo instante os novos “its” do momento, o
essencial parece incômodo à “sobrevivência social”. As novas necessidades nos
transformaram subservientes a massificação. Tudo parece igual, sem nuances de
identidade ou de vontade natural. Há sempre um padrão a ser seguido para que
haja aceitação. As diferenças entre as classes sociais se tornam tênues a
modelos que se diferem aos limites das marcas, da qualidade de alguns produtos,
dos mercados de compra. Então, resta no ar à pergunta se ao longo do tempo
houve de fato uma gritante discrepância entre os uniformes caquis e a camiseta
branca com índigo blue?
O grande dilema da Rio+20
está justamente aí, por qual necessidade
lutar? Sobrevivência ou produção? Água e alimentos ou lucro? Ar respirável e
acessibilidade urbana ou explosão industrial? Saúde ou estresse? Reencontrar o
significado das prioridades ou se lançar em queda livre ao que nos acena diante
dos olhos? Ser ou não ser?... NECESSIDADES apontam escolhas, quase sempre
extremas, complexas, difíceis; mas, todas fazem parte da existência humana e
nos confrontam com o conjunto de dualidades que alicerçam nosso ser. Tantos
pudores para manifestar o belo, o puro, o sagrado, o bom da vida; e nenhum para
agredir, destruir, dizimar, massacrar o próprio semelhante e o mundo em redor. Mudar
o mundo é de fato uma tarefa ambiciosa e de muitas impossibilidades; porém,
mudar a si mesmo é algo possível e um ponto de partida extremamente valioso. Só
se muda os pontos de vista quando se está vivo, pleno, sedento de ousadia e
vontade de degustar o prazer de novas experiências, de sair da zona de conforto
e do marasmo. Então, de repente, você se depara com NECESSIDADES incrivelmente
interessantes, tais como dançar de rosto colado com a vida, sem desperdiçar um
minuto sequer com detalhes sem a menor importância. Será que você ainda se
lembra do que é realmente NECESSÁRIO???