quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Leia. Pense. Reflita.

É melhor prevenir do que remediar?


Por Alessandra Leles Rocha



É melhor prevenir do que remediar. Assim diz o provérbio. Mas por aqui, em Terra Brasilis parecemos não levar muito a sério essas palavras e acabamos por viver em constante apagar de “incêndios”.
Sim, em maior e em menor escala, o brasileiro não é um sujeito precavido. O amanhã, o depois, sempre lhe parece a melhor solução para tudo. Aí, quando a coisa não dá certo e a situação aperta, só lhe resta posar de vítima das circunstâncias e choramingar suas pitangas, como se não tivesse nenhuma parcela de responsabilidade sobre o assunto.
Vejam a Febre Amarela que assola alguns estados brasileiros e o corre-corre que se formou para a vacinação. Este é um grande exemplo da nossa displicência imprevidente. Como diz a canção, "Moro num país tropical / Abençoado por Deus / E bonito por natureza (mas que beleza)..."1;portanto, deveríamos (nós e nossos governantes) nos atentar para o fato de que essa tal "tropicalidade", também, acarreta certo número de doenças, tais como: MALÁRIA, DENGUE, DOENÇA DE CHAGAS, LEISHMANIOSE, ESQUISTOSSOMOSE, TUBERCULOSE, HANSENÍASE 2.  
Algumas dispondo de vacinação preventiva, outras não; mas, a verdade é que se existem há sempre um risco iminente de surto 3 e/ou epidemia 4, principalmente pelo descontrole dos agentes transmissores e do estreitamento das faixas limítrofes entre as zonas urbanas e rurais, o que facilita o trânsito da doença. Em busca de água, abrigo e alimento, é cada vez mais comum o aparecimento, proliferação e adaptação dos agentes transmissores para as regiões mais urbanizadas do país.
Por isso, deveríamos nos atentar mais a essas questões. Mas, o que se percebe é que nem mesmo os profissionais de saúde dispõem de uma formação que contemple com mais seriedade a chamada Medicina Tropical, aquela voltada para as infecções ou moléstias tropicais. Na verdade, quando se trata da trivialidade médica do país, nossos profissionais parecem estar diante do mais inusitado. Quantos são realmente capazes de identificar um acidente ofídico, por exemplo, apenas pelo sinal da mordida do animal? Sabe, isso é importantíssimo nos serviços de emergência, porque nem sempre a vítima tem como descrever ou apresentar in loco o animal, para que possa receber os cuidados e o soro antiofídico apropriado.  Quantos conhecem na prática os sintomas e repercussões evolutivas das doenças tropicais? Basta ver a confusão que houve quando a Dengue, a Chikungunya e a Zika disputaram palmo a palmo o espaço no cenário epidemiológico nacional e a dificuldade de se estabelecer um diagnóstico preciso era evidente entre os profissionais de saúde. Então, diante de um quadro típico para a realidade do país, a população enfrenta tamanho desafio e acaba por padecer na falta de assistência adequada, em pleno século XXI.
Um século depois da Revolta da Vacina 5, ocorrida pela disseminação da ignorância da população, o que dizer sobre o que vivemos agora? Talvez, uma pequena porcentagem ainda possa se abrigar no argumento da ignorância; mas, e o restante? Pesa sobre a maioria a ideia condicionada de que estamos no século XXI e este nos trouxe a proteção necessária e suficiente contra esses males do passado, deixando nas páginas da história o seu registro.
Há sempre quem argumente que a carência de fármacos e técnicas específicas para o combate das doenças no passado era a causa das epidemias devastadoras, como se quisessem se abster da responsabilidade sanitária que compete a cada um em particular. Quando na verdade, o sucesso do controle epidemiológico depende de cada elo envolvido no processo, ou seja, cidadãos, profissionais de saúde, técnicas e tecnologias, medicamentos, instrumentos de análise, profilaxia e controle. 
Assim, não é o fato de estarmos em pleno século XXI, rodeados pelos mais modernos aparatos da ciência e da tecnologia, que doenças (sobretudo, as tropicais) são coisas do passado. As demandas de uma sociedade com mais de 207,7 milhões de pessoas, no caso do Brasil, contribuem inevitavelmente com o processo de impacto ao meio ambiente. A cada passo que a urbanização, a expansão das fronteiras agrícolas e a industrialização avançam, o processo de estruturação social esbarra no equilíbrio ecológico e nos expõem aos riscos de doenças, as quais estavam, até então, confinadas aos ambientes naturais, ou seja, áreas de matas e florestas. Diante da ação antrópica no ambiente, a prevenção das doenças deveria, portanto, ser uma prioridade contínua e não esporádica como vem sendo tratada ao longo das décadas.  
Aliás, a realidade contemporânea vem impondo, não só ao Brasil, mas ao mundo inteiro, desafios imensos em relação ao que se entende por vigilância epidemiológica (agravos e doenças), vigilância sanitária (agentes químicos, físicos e biológicos que possam ocasionar doenças e agravos) e vigilância ambiental (monitoramento da exposição de indivíduos ou grupos populacionais a um determinado agente ambiental, considerando os efeitos subclínicos ou pré-clínicos por ele causados). A globalização, o crescimento do fluxo migratório voluntário e involuntário, a existência de armas químicas e biológicas de destruição em massa, tudo isso coloca todos os seres humanos em risco iminente.
O fato de sermos capazes de produzir vacinas e/ou medicamentos, de dispormos de equipamentos, tecnologias e mão-de-obra para o combate dos agentes transmissores, não representa motivos para nos vangloriarmos como vimos até agora. As medidas de controle e fiscalização de fronteiras é que precisam ser periodicamente revistas e aprimoradas; bem como, aquelas voltadas à educação e a conscientização da população. Saúde pública é parte de uma educação cidadã, a qual se sabe não existe em nosso país. Se fôssemos mesmo cidadãos, saberíamos o valor da prevenção e sempre trabalharíamos por ela. Não precisaríamos ser convocados, lembrados, estimulados; isso já faria parte da nossa consciência, do nosso compromisso individual e coletivo.  Então, o melhor remédio é educar!



3 Surto: acontece quando há o aumento repentino do número de casos de uma doença em uma região específica. Para ser considerado surto, o aumento de casos deve ser maior do que o esperado pelas autoridades.... - Veja mais em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/surto-epidemia-pandemia-e-endemia-entenda-qual-e-a-diferenca-entre-eles.htm?cmpid=copiaecola.
4 Epidemia: a epidemia se caracteriza quando um surto acontece em diversas regiões. Uma epidemia a nível municipal acontece quando diversos bairros apresentam uma doença, a epidemia a nível estadual acontece quando diversas cidades ... - Veja mais em https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/surto-epidemia-pandemia-e-endemia-entenda-qual-e-a-diferenca-entre-eles.htm?cmpid=copiaecola

Um comentário:

  1. Boa tarde!!!
    Infelizmente, o escrito retrata a realidade daquilo que ocorre em...
    "em Terra Brasilis parecemos não levar muito a sério... e acabamos por viver em constante apagar de “incêndios”."
    Sem sombra de dúvidas:
    Não precisaríamos ser convocados, lembrados, estimulados; isso já faria parte da nossa consciência, do nosso compromisso individual e coletivo. Então, o melhor remédio é educar!"
    Deixando para o amanhã, o depois, sempre parece a melhor solução para tudo. Aí, quando a coisa não dá certo e a situação aperta, só lhe resta posar de vítima das circunstâncias e choramingar suas pitangas, como se não tivesse nenhuma parcela de responsabilidade sobre o assunto.
    Parabéns pela abordagem.
    Elvandro Burity

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